segunda-feira, 23 de março de 2009

Mais informações sobre a cirurgia do diabetes e obesidade

Estes posts relatam o dia a dia, as dificuldades e a rotina da cirurgia de transposição de íleo para cura do diabetes e da obesidade. Os relatos estão divididos em partes. Para ler desde o inicio você pode começar aqui:

PARTE 1 http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/o-inicio-de-tudo.html

Para saber um pouco mais sobre o Dr. Áureo:
Revista Veja: http://veja.abril.com.br/311007/p_092.shtml
Jornal Opção http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/um-pouco-mais-sobre-dr-aureo.html

Um vídeo interessante sobre a cirurgia
http://br.truveo.com/Diabetes-Brasileiros-desenvolvem-cirurgia-in%C3%A9dita/id/4001392579


Encontrei essas informações no blog da Emilia, e estou republicando aqui, pois me pareceram bem interessantes.

O PROCEDIMENTO CIRÚRGICO É O MESMO PARA OBESIDADE E DIABETES ?

Respondendo a pergunta da Graça Miller o Dr. Luiz Queiroz, da equipe do Dr. Áureo, diz: - O procedimento é basicamente o mesmo do diabetes, o que ocorre é que a cirurgia restaura a homeostase do organismo ou seja o seu equilíbrio, a pessoa não vai comer com impulsivamente, a grelina baixando seu nível no sangue, este é o hormônio da saciedade, a pessoa não sente vontade de comer e só come o que é necessário, como pessoas normais.
- Antigamente as técnicas cirurgicas eram restritivas a pessoa emagrecia na marra, com a técnica desenvolvida pelo Dr Aureo, a pessoa emagrece feliz sem sofrimento. Não há retirada do intestino, apenas o íleo , a última porção do intestino delgado é intesposta ao jejuno. Não tem anel , pois o mecanismo de ação é fisiológico e não restritivo. Há sim grampos para suturas.
window.google_render_ad();
DIFERENÇA DA CIRURGIA DE OBESIDADE PARA AS ANTIGAS
O nome da técnica do Dr Aureo é FREIO NEUROENDÓCRINO, portanto nesta técnica é retirada cerca de 20% do estômago, região onde é produzida o hormônio Grelina, responsável pela saciedade. Portanto agindo no cérebro a pessoa só come o que é necessário, no intestino então serão absorvidos todos os nutrientes e vitaminas , não sendo necessários uso de medicamentos suplementares.

No intestino é interposto uma parte do íleo ao jejuno, além do efeito incretínico no íleo e o alimento em quantidade adequada a pessoa emagrece rápido e saudável , além de não ter aquele famoso cheiro horrível das fezes, causado pela esteatorréia, muito comum em técnicas cirúrgica antigas.
INFORMAÇÕES IMPORTANTES
INFORMAÇÕES GERAIS INICIAIS –
1 - Essa cirurgia se destina a pacientes portadores de diabetes tipo 2. Os casos de Tipo I ou da criança ou infanto-juvenil ainda não são tratados por esse procedimento cirurgico.
2- Foi idealizada pelo Dr. Aureo Ludovico de Paula e é realizada aqui em Goiânia e Sãqo Paulo desde 2003.
3- Aproximadamente 95% das pessoas portadoras de Diabetes tipo 2 são candidatas. Aquelas excluídas (aproximadamente 5%), em geral possuem algum problema clínico muito grave que impede o ato anestésico-cirurgico, ou extremo de idade como problema renal avançado, pacientes em hemodiálise, com função renal abaixo de 30 ml/min.- História de acidente vascular cerebral (AVC). - História de ressecção do pâncreas por Tumor. Pancreatite crônica por álcool. - Cirrose hepática. Doença inflamatória do intestino, tipo Doença de Crohn. - Câncer em atividade, independente do local de origem. - Problema cardíaco muito grave tipo insuficiência cardíaca congestiva avançada. - Pacientes com mais de 70 anos.
4- É feita através de cirurgia laparoscópica, não havendo necessidade de cirurgia aberta, com corte. Dura em média 3 a 4 horas. Outros procedimentos podem ser feitos como: colecistectomia, hernioplastia hiatal, obesidade, etc.
5- A internação hospitalar dura em média 3 dias.
6- Não há necessidade de repouso físico.
7- É fundamental uma dieta nos primeiros 3 a 6 meses do procedimento (nutricionista) 8- É necessário a realização de uma série de exames para adequada avaliação de cada caso.
9- O índice de remissão ou controle do Diabetes 2 é de 90 - 95% dos casos.
10 - O princípio básico da cirurgia está relacionado a estimulação do Pâncreas através de hormônios do trato digestivo, próprios de cada pessoa. Nos diabéticos esses hormônios, incretinas, estão em níveis baixos. Realiza-se uma interposição ileal. É necessária ainda uma pequena redução do estômago. Essa parte da cirurgia destina-se a diminuir um hormônio (grelina) que interfere com a ação da insulina.

FREIO NEUROENDÓCRINO
É o nome da técnica cirúrgica criada pelo Dr. Áureo Ludovico de Paula. Esta cirurgia é hoje a esperança dos portadores de Diabetes II, já está sendo realizada desde 2003 com sucesso absoluto. O método consiste na interposição de segmento de íleo, que é a terceira e última parte do intestino delgado, para uma área mais próxima do estômago. Dessa forma, intensifica-se a produção das incretinas, hormônio que estimula a produção de insulina. Gastroplastia com interposição ileal (freio neuroendócrino) como opção de tratamento cirúrgico da obesidade mórbida.



Para saber como foi a minha cirurgia siga abaixo:
PARTE 1 http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/o-inicio-de-tudo.html




domingo, 22 de março de 2009

Cirurgia do Diabetes e da obesidade - volta para casa


Estes posts relatam o dia a dia, as dificuldades e a rotina da cirurgia de transposição de íleo para cura do diabetes e da obesidade. Os relatos estão divididos em partes. Para ler desde o inicio você pode começar por este post:

PARTE 1 http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/o-inicio-de-tudo.html

Para saber um pouco mais sobre o Dr. Áureo:
Revista Veja: http://veja.abril.com.br/311007/p_092.shtml
Jornal Opção http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/um-pouco-mais-sobre-dr-aureo.html

Um vídeo interessante sobre a cirurgia

http://br.truveo.com/Diabetes-Brasileiros-desenvolvem-cirurgia-in%C3%A9dita/id/4001392579


PARTE 3

LAR DOCE LAR

No trajeto sentia cada bacada do carro, por menor que fosse. As avenidas me pareceram intermináveis durante os 30 minutos que gastamos para chegar em casa, mesmo sem trânsito nenhum, mas na velocidade média de 25 por hora.

A visão do jardinzinho na entrada e o cheiro da casa foram uma espécie de boas vindas. Agradeci a Deus em voz alta.

A primeira missão era fazer um suco de pêssego com maçã, suficiente para no máximo duas horas, pois segundo a nutricionista, duas horas é o limite de vida dos nutrientes mais importantes. Ela havia recomendado ainda que lavasse todas as frutas com água e detergente usando uma esponja nova. Recomendou especial atenção ao lavar o coco verde.

- Você está cortada por dentro e com imunidade baixa. Não pode correr riscos à toa – reafirmou.


Coado em peneira fina e contendo uma pitada de açúcar magro, o suco me pareceu bem agradável. Eu havia trazido do hospital uns 5 pequenos copos descartáveis de 50ml, geralmente usados nos escritórios para servir cafezinho. Peguei as xícaras que tinha em casa e fui testando uma a uma até descobrir qual delas continha dois copinhos de 50 ml que enchi com água. Uma delas foi perfeita e passaria a ser a medida oficial de 100 ml.

Tentei dormir um pouco. Sem sucesso, fui para a televisão. Tinha em mente a recomendação do Ar. Áureo: não quero a sra. passando o dia na frente da tv ou do computador. É preciso se movimentar.

Desobedeci e fui assistir um filme. Entretida com o filme perdi a hora de beber o suco. De novo me veio a lembrança outra frase do Dr. Áureo: - Cumprir os horários e a quantidade da alimentação é chave. Não brinque com isso.

Peguei um timer que uso na cozinha, cadastrei 30 minutos e desde então quando ele alarmava, já dava inicio ao próximo ciclo, e assim diante. Foi a forma que achei para não perder mais os horários.

Medir a diurese é uma rotina chatíssima. Você tem que utilizar uma vasilha para coleta e depois transportar para uns plásticos com escala em ml, ver quanto deu e anotar regularmente. E naturalmente deixar tudo limpo para a próxima etapa.

Cadastrei no alarme do celular os horários dos remédios que deveria tomar. As pílulas tinham que ser dissolvidas em água. Além disso, tinha que passar uma pomada três vezes por dia nos cinco pequenos furos que ficaram na barriga. Os pontos cairiam por si sós, e a massagem com a pomada ajudaria na cicatrização e na eliminação de cicatriz. Eram cortes muito pequenos.

De acordo com meu marido minha aparência havia mudado depois que cheguei em casa. Na verdade eu havia tomado um bom banho e secado o cabelo. Mas tinha também a questão psicológica de estar de volta em casa. Recebemos a visita de um casal à noitinha. Tudo parecia de volta a normalidade.

UMA NOVA ROTINA

Dormi bem. Acordei às 4:30 da manhã já sem sono nenhum. Decidi levantar e começar a escrever os posts deste blog. Tinha que aproveitar o tempo livre pois quando voltasse a trabalhar não teria mais chance.

Era uma segunda feira. Já estava liberada para dirigir e precisava ir ao hospital para fechar o acerto da conta, pois a alta havia ocorrido no domingo e a tesouraria do hospital estava fechada. Decidi passar a manhã em casa e sair à tarde. Fiquei toda a manhã no computador redigindo, alternando entre computador e exercícios. Além das caminhadas que fiz contando voltas dentro de casa, tinha o Respiron. O timer não me deixava perder os horários.

Lá pelas onze minha secretária começou a preparar o almoço. Pela primeira vez tive contato com os cheiros da cozinha e reconheci o alho sendo refogado. Uma mistura de desejo e censura começaram a brigar dentro de mim. Respirei fundo. Lembrei-me que bastava mais um dia e teria direito a caldo de carne com legumes. O pensamento me acalmou.

Tentei dormir no inicio da tarde. Não consegui. Meu padrão de sono estava muito diferente do normal. Dormia cinco ou seis horas durante a noite e era suficiente. Sempre gostei de dormir depois do almoço e não estava conseguindo.

Essa não era a única mudança que estava percebendo. Estava muito mais sensível aos cheiros. Também estava menos encalorada. Pela primeira vez em 34 anos de convivência meu marido estava sentindo mais calor que eu.

Á tarde fui ao hospital dirigindo meu carro. As avenidas já não pareciam tão esburacadas. Fui devagar, mas nem tanto. Foi divertido ouvir a pergunta da moça: quem é o paciente? Eu, respondi. E ela olhou para mim surpreendida e deixou escapar um “nossa!”.

Levei um sapato para consertar e aproveitei o tempo para ver uma loja de bijouterias, atividade que jamais me permitiria numa segunda feira de trabalho.

Cheguei em casa ás sete da noite. Sem a ajuda do timer havia perdido vários horários de tomar o suco e a água de côco que havia levado numa lancheirinha. Também havia preparado um kit diurese contendo copos descartáveis de 200 ml como medidor e um papel para anotações.

Lembrei de um relógio digital que tinha timer e que passaria a me acompanhar sempre que eu estivesse fora de casa.

A PRIMEIRA REVISÃO

Dormi bem a noite e acordei ás 5 da manhã. Era terça feira e no final do dia deveria ir à Clinica para a primeira revisão. Durante o dia, o resultado da diurese mostrou com clareza a consequência do esquecimento do dia anterior. Antes de sair para o consultório, ás 15 hs, tinha conseguido apenas 450 ml. Em geral a essa hora já teria mais de 900 ml. Se não atingisse no final do dia os 1.500 ml seria um problema.

A boa nova do dia era que tinha direito a caldo de carne com legumes. Esperava ansiosamente pelo caldo, primeira “refeição” de sal. Detestei. Um gosto de sangue, muito forte. Minha empregada fez outro desta vez de frango. Intragável. Forcei a barra para tomar pelo menos duas medidas de 100ml. Com o paladar e o olfato muito sensíveis, o cheiro e o sabor dos caldos foi desestimulante. Como não podia usar gordura, era difícil refogar bem a carne. Decidi dar tempo a mim mesma para me readaptar com um gosto tão forte.

Mesmo assim me sentei a mesa de almoço com meu marido, pela primeira vez depois da cirurgia. Até então eu fazia questão de ficar longe da mesa nos horários em que ele estava almoçando ou jantando. Com meu caldo horroroso, consegui passar por essa prova até que sem dificuldades.

Na clínica, a revisão indicou que tudo estava normal, boa recuperação, boa cicatrização, tudo em ordem.

- Está ótima, disse Dr. Áureo. Agora cuidado com a alimentação. Tem uma parte do seu intestino perto do estômago que nunca viu nem leite materno antes da digestão. Se você for muito séria com a dieta o sucesso está garantido.

Uma das minhas queixas era que eu não havia perdido nem um kilo. Também sentia a barriga estufada, cheia, não sei.

- Você recebeu muito soro no hospital e ainda está com muito líquido no corpo. A barriga ainda está inchada por dentro e ainda há gases a expelir. Essa semana isso tudo termina - explicou Dr. Áureo.
- A minha diurese hoje está um desastre, muito pouca. E acrescentei que havia perdido os horários ontem.
- Se você obedecer corretamente os horários de hoje pode ser que haja uma compensação até amanhã de manhã. Senão terá que ir a emergência tomar dois soros de hidratação rápida. Depois de amanhã quero te ver novamente aqui na Clínica - completou Dr. Áureo.

Só de pensar em ir a emergência tomar soro minha firmeza com horários redobrou.

A SEGUNDA REVISÃO

Na quinta feira a revisão também mostrou que tudo estava em ordem. Minhas medidas de pressão e diurese diárias estavam boas, estado geral ótimo, sem dor, sem fraqueza.

Deveria voltar somente quando completasse 15 dias da alta hospitalar, em jejum absoluto de 8 horas (inclusive de água) para uma endoscopia, e trazendo exames de sangue (recebi o pedido de exame).

Estava oficialmente liberada para voltar ao trabalho e a qualquer atividade exceto ginástica e carregar peso. As caminhadas continuavam sendo obrigatórias, bem como as meias, o Respiron, a medida diária de pressão e da diurese, além de continuar com os remédios.

O medo de voltar á emergência para tomar soro não me deixava perder horários, mesmo fora de casa, com minha lancheirinha e o timer acionado.

No sábado, havia uma profunda mudança na alimentação. Não havia mais lista de alimentos. Tudo estava liberado desde que batido no liquidificador. Já podia usar um pouquinho de óleo na preparação e na lista negra, apenas pimenta, bebida gasosa e condimentos industrializados como extrato, mostarda, ketchupe, shoyo, essas coisas. Assim poderia escolher qualquer alimento desde que fosse fresco e fazer um creme usando todos os temperos que quisesse exceto os da lista negra.

No café da manhã a novidade era uma vitamina de banana com mamão e coalhada ligth. Que delícia! Agora poderia variar entre sucos, chás, iogurte, vitaminas e cremes e não precisava mais coar. Só bater. As possibilidades aumentavam enormemente.

Programei para o almoço caldo de feijão e frango ao molho com creme de milho verde, bem temperado com alho, cebola e salsa. Sentada a mesa de almoço e já mais adaptada a sabores fortes, adorei o caldo de feijão. O creme de milho e frango ficou espetacular.

No sábado à noite iriamos a uma festa de aniversário em casa de amigos e precisava levar minha própria comida. A idéia de ir a uma festa era espetacular. Ninguém sabia da cirurgia. Eu não iria fazer segredo, mas também não iria divulgar.

Fui ao salão para uma escova e escolhi uma roupa bonita. A essa altura já havia perdido cinco kilos, pois havia desinchado. Minha alegria com o novo peso era enorme!

Levei uma garrafinha com água de coco e o creme de milho com frango em um potinho de 400 ml. Na festa pedi a Lueli, nossa amiga, para aquecer no micro ondas as pequenas porções que tomava de meia em meia hora, quando o relógio apitava. Ficamos até as onze da noite e foi muito agradável.

A essa altura já havia aprendido a medir a diurese com copinhos descartáveis de 200ml que carregava na bolsa. Tudo muito simples e discreto.

Algumas pessoas me perguntaram se eu estava de óculos novo ou se havia mudado o cabelo. Eram os cinco quilos perdidos que já estavam fazendo diferença...


Continua na parte 4 - Resultados da Cirurgia - Para ler clique aqui

http://cirurgia2.blogspot.com/2009/06/estes-posts-relatam-o-dia-dia-as.html




sábado, 21 de março de 2009

Informações sobre Dr. Áureo Ludovico de Paula


Soube ainda no hospital sobre essa reportagem que gostaria de compartilhar enquanto não avanço com novos posts.
Se quiser ir direto para os posts sobre a cirurgia, vá para:

MATÉRIA DO JORNAL OPÇÃO


De­mós­te­nes Tor­res faz ci­rur­gia re­vo­lu­ci­o­ná­ria con­tra o di­a­be­tes. Se­na­dor é ope­ra­do pe­lo ci­rur­gi­ão go­i­a­no Áu­reo Lu­do­vi­co De Pau­la, que de­sen­vol­veu téc­ni­ca iné­di­ta pa­ra cu­rar uma das mais ter­rí­veis do­en­ças da hu­ma­ni­da­de.

Áu­reo Lu­do­vi­co: “Uma do­en­ça que não ti­nha cu­ra”
De­mós­te­nes Tor­res: "Es­pe­ro es­tar cu­ra­do em um ano”

No dia 19 de ja­nei­ro, no Hos­pi­tal Al­bert Eins­tein, o se­na­dor De­mós­te­nes Tor­res foi sub­me­ti­do a um pro­ce­di­men­to que pro­me­te re­vo­lu­ci­o­nar o tra­ta­men­to do di­a­be­tes. A téc­ni­ca, de­no­mi­na­da freio neu­ro­en­dó­cri­no no tra­ta­men­to do di­a­be­tes, foi de­sen­vol­vi­da pe­lo ci­rur­gi­ão Áu­reo Lu­do­vi­co De Pau­la, e é fei­ta por la­pa­ros­co­pia (atra­vés de pe­que­nas in­ci­sões, ou se­ja, não há cor­te ci­rúr­gi­co).

A ci­rur­gia foi a op­ção do se­na­dor pa­ra cu­rar a do­en­ça pre­va­len­te em sua fa­mí­lia e que já ma­tou pe­lo me­nos dois ir­mãos e o pai. Por ser mi­ni­ma­men­te in­va­si­va, no dia se­guin­te De­mós­te­nes já es­ta­va ca­mi­nhan­do no cor­re­dor do hos­pi­tal. Me­nos de dois mes­es de­pois, De­mós­te­nes Tor­res diz que se sen­te mui­to bem. “Ain­da não es­tou cu­ra­do, as es­ta­tís­ti­cas mos­tram que 41% se cu­ram no pri­mei­ro mês e 55% no pri­mei­ro ano. Es­tou nes­sa do pri­mei­ro ano. Mas o im­por­tan­te é que meu es­ta­do fí­si­co es­tá mui­to me­lhor. Per­di em tor­no de 15 qui­los, es­tou fa­zen­do exer­cí­cios fí­si­cos. Mi­nha gli­co­se, que che­ga­va até a 200, tem os­ci­la­do pa­ra bai­xo e já che­gou a dar até me­nos de 100.

Mi­nha ex­pec­ta­ti­va é de que den­tro de um ano eu es­te­ja cu­ra­do, e foi is­so que o dou­tor Áu­reo me dis­se.” De­mós­te­nes es­tá tão bem que até a pres­são ar­te­rial, que sem­pre foi boa, 11 por 7, bai­xou pa­ra 11 por 6. Ele to­ma­va mui­tos re­mé­di­os e ago­ra es­tá to­man­do ape­nas três com­pri­mi­dos por dia, de uma me­di­ca­ção mais fra­ca. E à me­di­da que for di­mi­nu­in­do o ní­vel de gli­co­se no san­gue, di­mi­nui tam­bém es­sa me­di­ca­ção até eli­mi­ná-la to­tal­men­te. Ele to­ma­va re­mé­di­os pa­ra nor­ma­li­zar a ta­xa de co­les­te­rol. “Ago­ra já não pre­ci­so, o co­les­te­rol es­tá nor­ma­li­za­do sem me­di­ca­ção.” De­mós­te­nes Tor­res não era um do­en­te em si­tu­a­ção crí­ti­ca. Não ti­nha, por exem­plo, ne­nhu­ma res­tri­ção ali­men­tar nem se­qüe­las da do­en­ça.

Ele con­ta que op­tou por fa­zer a ci­rur­gia pa­ra evi­tar que apa­re­ces­sem es­sas se­qüe­las, co­mo pro­ble­ma hor­mo­nal ou car­dí­a­co. Os efei­tos do di­a­be­tes são co­nhe­ci­dos de per­to pe­lo se­na­dor, ori­un­do de uma fa­mí­lia de dez ir­mãos, com cin­co de­les aco­me­ti­dos pe­la do­en­ça. “Meu pai mor­reu pra­ti­ca­men­te ce­go por con­ta do di­a­be­tes. Um ir­mão mor­reu no ano pas­sa­do, tam­bém pra­ti­ca­men­te ce­go e fa­zen­do he­mo­di­á­li­se. Meu ir­mão mais ve­lho mor­reu na dé­ca­da de 80 com pro­ble­mas car­dí­a­cos sé­rios, mor­reu in­far­ta­do. So­mos dez ir­mãos, me­ta­de tem di­a­be­tes.

Eu op­tei por fa­zer a ci­rur­gia por­que sa­bia que o que vi­nha de­pois se­ria mui­to pi­or. A ci­rur­gia evi­ta que apa­re­çam es­ses pro­ble­mas, por­que co­lo­ca a gen­te em ní­veis nor­mais”, con­ta o se­na­dor.
Prê­mio No­bel de Me­di­ci­na
De­mós­te­nes Tor­res diz que Áu­reo Lu­do­vi­co já é uma re­fe­rên­cia na me­di­ci­na na­ci­o­nal. “To­dos os mé­di­cos bra­si­lei­ros co­nhe­cem sua téc­ni­ca, res­pei­tam o que ele faz. É um ci­en­tis­ta, mui­to res­pei­ta­do. Te­nho vá­rios ami­gos que ope­ra­ram com ele com re­sul­ta­dos po­si­ti­vos. E dois se­na­do­res já dis­se­ram que tam­bém vão ope­rar pa­ra a cu­ra do di­a­be­tes”, con­ta.

O se­na­dor diz que con­ver­sou com mé­di­cos pro­e­mi­nen­tes em São Pau­lo e eles são en­tu­si­as­tas do pro­ce­di­men­to cri­a­do pe­lo co­le­ga go­i­a­no. Se­gun­do De­mós­te­nes, es­ses mé­di­cos fa­lam que se a téc­ni­ca com­pro­var sua efi­cá­cia a lon­go pra­zo, se de­pois de dez anos os pa­ci­en­tes con­ti­nu­a­rem com o ní­veis re­gu­la­ri­za­dos, o mé­to­do se con­fir­ma­rá tão re­vo­lu­ci­o­ná­ria que vai que­brar a se­gun­da mai­or in­dús­tria do mun­do, a dos me­di­ca­men­tos con­tra o di­a­be­tes. “Is­so, se­gun­do es­ses mé­di­cos, po­de le­var o gas­tro­en­te­ro­lo­gis­ta go­i­a­no a ga­nhar o Prê­mio No­bel de Me­di­ci­na. É uma ex­pec­ta­ti­va que tem ra­zão de ser. É uma pos­si­bi­li­da­de, se­gun­do es­ses mé­di­cos, que são pro­fis­si­o­nais tam­bém re­no­ma­dos e que re­co­nhe­cem a im­por­tân­cia da téc­ni­ca de­sen­vol­vi­da pe­lo Áu­reo”, diz.

O bis­tu­ri e o la­pa­ros­có­pio de Áu­reo Lu­do­vi­co não são no­vi­da­des na fa­mí­lia de De­mós­te­nes. Ele já ti­nha ope­ra­do o fi­lho mais ve­lho do se­na­dor, que com 17 anos era um su­pe­ro­be­so, com mais de 140 qui­los. “Ho­je meu fi­lho tem uma vi­da nor­mal, com 75 qui­los. Des­de en­tão, sem­pre con­ver­sei com o dou­tor Áu­reo, pro­cu­rei me in­for­mar me­lhor, e op­tei por fa­zer a ci­rur­gia pa­ra cu­ra do di­a­be­tes.”

Cu­ra pe­la ci­rur­gia é uma re­vo­lu­ção O go­i­a­no Áu­reo Lu­do­vi­co De Pau­la tem 47 anos. É um ho­mem que gos­ta de con­ver­sar e fa­la com gran­de en­tu­si­as­mo de sua pro­fis­são. É um dos mais bri­lhan­tes mé­di­cos bra­si­lei­ros. Cu­ri­o­si­da­de e in­con­for­mis­mo tal­vez se­jam su­as ca­rac­te­rís­ti­cas mais mar­can­tes. Só is­so ex­pli­ca co­mo ele che­gou a de­sen­vol­ver a téc­ni­ca ci­rúr­gi­ca que po­de cau­sar — ou es­tá cau­san­do — uma re­vo­lu­ção na me­di­ci­na mun­di­al. A cu­ra do di­a­be­tes por ci­rur­gia é is­so mes­mo, uma re­vo­lu­ção que po­de aba­lar im­pé­ri­os fi­nan­cei­ros.

“Eu me per­gun­ta­va co­mo po­de ha­ver uma do­en­ça tão de­vas­ta­do­ra, tão pre­va­len­te, tão im­por­tan­te do pon­to de vis­ta so­ci­al e eco­nô­mi­co e não se tem cu­ra pa­ra ela. Daí eu quis ver de que ma­nei­ra eu, co­mo ci­rur­gi­ão, po­de­ria aju­dar es­ses pa­ci­en­tes. Fui es­tu­dar, pes­qui­sar”, con­ta Áu­reo. Ele lem­bra, por exem­plo, que leu num ar­ti­go da dé­ca­da de 80 que em pa­ci­en­tes ope­ra­dos de úl­ce­ra, ob­ser­vou-se que cer­to por­cen­tu­al me­lho­ra­va do di­a­be­tes. Que ope­ra­vam cer­to nú­me­ro de obe­sos e tan­tos por cen­to me­lho­ra­vam o di­a­be­tes.

“Pen­sei na pos­si­bi­li­da­de de com­bi­nar es­ses fa­to­res pa­ra mo­di­fi­car a his­tó­ria na­tu­ral da do­en­ça”, diz. Áu­reo lem­bra que no Rei­no Uni­do, os mai­o­res es­tu­di­o­sos de di­a­be­tes ob­ser­va­ram que o tra­ta­men­to clí­ni­co re­ver­teu mui­to pou­co na his­tó­ria da do­en­ça. “Li es­se es­tu­do há dez anos e me sur­pre­en­di. Me per­gun­tei co­mo po­de es­sa do­en­ça es­tar sen­do tra­ta­da as­sim com re­sul­ta­dos tão pou­cos efe­ti­vos.

Os in­di­ví­duos são tra­ta­dos e con­ti­nuam mor­ren­do; con­ti­nuam fi­can­do ce­gos; con­ti­nuam ten­do bai­xís­si­mos ín­di­ces de ade­rên­cia ao tra­ta­men­to. Tem al­gu­ma coi­sa er­ra­da aí.” Ele re­ve­la que um es­tu­do da Merck Sharp & Dohme, uma das mai­o­res far­ma­cêu­ti­cas do mun­do, pu­bli­ca­do na se­ma­na pas­sa, diz que ape­nas 30% dos pa­ci­en­tes con­se­guem ade­rir ao tra­ta­men­to de for­ma efi­caz. “Há re­la­tos de mais de 2 mil so­bre o di­a­be­tes e o tra­ta­men­to sem­pre foi atra­vés de di­e­tas, ati­vi­da­des fí­si­cas e me­di­ca­men­tos. Sem re­sol­ver.

Is­so mos­tra que a me­di­ci­na es­tá le­van­do de go­le­a­da e não tra­ta coi­sa al­gu­ma, só es­tá di­zen­do que es­tá tra­tan­do. Uma coi­sa é o que se fa­la que vai fa­zer, e ou­tra é o que efe­ti­va­men­te se faz. En­tão, sur­gem re­mé­di­os mi­la­gro­sos que não mu­dam a his­tó­ria do pro­ble­ma.” Ba­se­a­do nas su­as pes­qui­sas, ele de­sen­vol­veu a al­ter­na­ti­va de tra­tar o di­a­be­tes atra­vés de ci­rur­gia, uma gui­na­da de 180 graus no tra­ta­men­to da do­en­ça. De 2003 pa­ra cá, ele já ope­rou 408 pa­ci­en­tes ma­gros. Al­guns já es­tão cu­ra­dos. Ou­tros es­tão em fran­co pro­ces­so de cu­ra.

Só Áu­reo faz es­se pro­ce­di­men­to no Bra­sil. Ele ope­ra em Go­i­â­nia, no Hos­pi­tal de Es­pe­cia­li­da­des, e em São Pau­lo no Al­bert Eins­tein. Nos pró­xi­mos di­as co­me­ça­rá a ope­rar tam­bém no Mount Si­nai, em No­va York. No mun­do a ci­rur­gia é fei­ta na Ín­dia e em Mi­lão (Itá­lia) e es­tá sen­do im­plan­ta­da nos Es­ta­dos Uni­dos. O de­ta­lhe, os ci­rur­gi­ões que ope­ram na Ín­dia e na Itá­lia fo­ram trei­na­dos com o mé­di­co go­i­a­no. Re­sis­tên­cia — Áu­reo diz que en­fren­ta di­fi­cul­da­des na di­vul­ga­ção do pro­ce­di­men­to jus­ta­men­te pe­lo ine­di­tis­mo. “Des­de o iní­cio sa­bí­a­mos que a di­vul­ga­ção des­sa téc­ni­ca se­ria uma cor­ri­da de ma­ra­to­nis­ta.

Te­rí­a­mos de ter re­sis­tên­cia por­que to­do o res­to do sis­te­ma é con­tra no mais am­plo sen­ti­do da pa­la­vra, por­que me­xe com mui­tos in­te­res­ses.” Ele re­ve­la que es­tá en­fren­tan­do di­fi­cul­da­des em mui­tos lu­ga­res. “Ima­gi­ne o im­pac­to eco­nô­mi­co que a cu­ra do di­a­be­tes vai pro­vo­car em to­do o mun­do. Um pa­ci­en­te di­a­bé­ti­co gas­ta R$ 1 mil por mês. Mul­ti­pli­que is­so em es­ca­la mun­di­al. Com a cu­ra por ci­rur­gia, quan­tos pa­ci­en­tes es­tão sen­do be­ne­fi­ci­a­dos, mas por ou­tro la­do, quan­ta gen­te es­tá dei­xan­do de ga­nhar di­nhei­ro. Mui­tos es­tão sen­do pre­ju­di­ca­dos com a cu­ra do di­a­be­tes.

São mé­di­cos, pro­fis­si­o­nais de ou­tras áre­as e a pró­pria gi­gan­tes­ca e mi­li­o­ná­ria in­dús­tria far­ma­cêu­ti­ca que es­tão sen­do pre­ju­di­ca­dos.” Áu­reo lem­bra que o do­en­te di­a­bé­ti­co nor­mal­men­te tem uma far­má­cia em ca­sa. “Mas o que va­le é o bem mai­or des­ses pa­ci­en­tes. O do­en­te cu­ra­do ul­tra­pas­sa as bar­rei­ras das re­sis­tên­cias. A ló­gi­ca na­tu­ral da me­di­ci­na é o bem co­mum de quem es­tá sen­do atin­gi­do pe­la do­en­ça, é a cu­ra do do­en­te. Es­se é o bem mai­or e os even­tua­is pre­ju­di­ca­dos te­rão de se adap­tar ou mu­dar de ra­mo”, diz Áu­reo.

Hor­mô­ni­os tra­ba­lham con­tra a do­en­ça

Mas o que é a téc­ni­ca de­sen­vol­vi­da pe­lo ci­rur­gi­ão go­i­a­no? Ele ex­pli­ca de for­ma bem sim­pli­fi­ca­da: “Não es­ta­mos fa­zen­do trans­plan­te de ór­gão, não es­ta­mos co­lo­can­do cé­lu­la-tron­co, não es­ta­mos co­lo­can­do cé­lu­la em­brio­ná­ria. Por um pro­ce­di­men­to que os ame­ri­ca­nos cha­mam de smart (es­per­ta), es­ta­mos fa­zen­do com que hor­mô­ni­os do pró­prio in­di­ví­duo tra­ba­lhem a fa­vor de­le con­tra o di­a­be­tes.” Em ou­tu­bro de 2007, a re­vis­ta Ve­ja pu­bli­cou ma­te­ri­al a res­pei­to da téc­ni­ca de Áu­reo Lu­do­vi­co sob o tí­tu­lo ´Di­a­be­tes, a es­pe­ran­ça no bis­tu­ri´.

A re­por­ta­gem re­gis­trou que o mé­to­do foi re­la­ta­do por Áu­reo na edi­ção de agos­to da re­vis­ta Sur­gi­cal En­dos­copy, da So­ci­e­da­de Ame­ri­ca­na de Ci­rur­gi­ões Gas­tro­in­tes­ti­nais e En­dos­có­pi­cos. “Ele é o cri­a­dor da téc­ni­ca de in­ter­po­si­ção do íleo. Fei­ta por la­pa­ros­co­pia, a ci­rur­gia con­sis­te em apro­xi­mar uma par­te do íleo do es­tô­ma­go, de mo­do a in­ten­si­fi­car a pro­du­ção de GLP-1. A ope­ra­ção pre­vê ain­da a re­du­ção de 20% do es­tô­ma­go, o que re­duz dras­ti­ca­men­te a pro­du­ção de gre­li­na, o hor­mô­nio do ape­ti­te. Is­so le­va à per­da de pe­so e, as­sim, di­mi­nui a re­sis­tên­cia à in­su­li­na. Dos 39 pa­ci­en­tes ci­ta­dos no ar­ti­go da re­vis­ta ame­ri­ca­na, qua­se 90% fi­ca­ram com­ple­ta­men­te li­vres do di­a­be­tes.

De ca­da dez, três saí­ram do hos­pi­tal sem ne­ces­si­da­de de ne­nhu­ma me­di­ca­ção an­ti­di­a­bé­ti­ca — uma cu­ra pra­ti­ca­men­te ins­tan­tâ­nea. “Se ape­nas me­ta­de des­ses re­sul­ta­dos pu­der ser re­pe­ti­da, te­re­mos uma re­vo­lu­ção no tra­ta­men­to do di­a­be­tes”, diz Al­fre­do Hal­pern, en­do­cri­no­lo­gis­ta, da Uni­ver­si­da­de de São Pau­lo. A ci­rur­gia tem efei­to, ain­da, so­bre uma sé­rie de ou­tras do­en­ças as­so­cia­das ao di­a­be­tes — hi­per­ten­são, co­les­te­rol al­to e tri­gli­cé­ri­des em ex­ces­so.

Há três se­ma­nas, uma equi­pe de pes­qui­sa­do­res da Es­co­la de Me­di­ci­na Mount Si­nai, em No­va York, es­te­ve no Bra­sil pa­ra apren­der a téc­ni­ca cri­a­da por De Pau­la. Eles vão co­me­çar a tes­tá-la nos Es­ta­dos Uni­dos. O su­ces­so da ex­pe­ri­ên­cia bra­si­lei­ra ser­viu de in­cen­ti­vo pa­ra que os ame­ri­ca­nos se lan­ças­sem nes­sa em­prei­ta­da. Até en­tão, eles não ha­vi­am to­ma­do es­sa ini­ci­a­ti­va por­que, lá, os pro­to­co­los de pes­qui­sas com se­res hu­ma­nos são mui­to mais ri­go­ro­sos e de­mo­ra­dos”.

Áu­reo Lu­do­vi­co diz que a efi­cá­cia da ci­rur­gia é de 91% a 96%, en­ten­den­do-se que efi­cá­cia nes­sa área é me­di­da por dois fa­to­res: bai­xa de gli­co­se no san­gue e re­ti­ra­da dos me­di­ca­men­tos que o pa­ci­en­te to­ma­va pa­ra con­tro­lar seus ní­veis gli­cê­mi­cos. “E a ci­rur­gia, além de bai­xar a gli­co­se, tam­bém re­ver­te aos da­nos cau­sa­dos pe­la do­en­ça.” Ele lem­bra que o di­a­be­tes é con­si­de­ra­do a prin­ci­pal cau­sa de ce­guei­ra e de do­en­ças car­dí­a­cas. “Ali­ás, o di­a­be­tes é con­si­de­ra­do uma do­en­ça car­dí­a­ca dis­far­ça­da de en­dó­cri­na. Em qual­quer ser­vi­ço de tra­ta­men­to de do­en­ças car­dí­a­cas se ve­ri­fi­ca que 85% dos pa­ci­en­tes são di­a­bé­ti­cos”, ex­pli­ca.

No dia em que Áu­reo re­ce­beu a re­por­ta­gem do Op­ção, ame­ri­ca­nos de uma em­pre­sa ca­das­tra­da jun­to ao FDA dos Es­ta­dos Uni­dos es­ta­vam fa­zen­do vi­si­ta, co­mo par­te de uma au­di­ta­gem so­bre o pro­ce­di­men­to. É um dos úl­ti­mos pas­sos pa­ra que a téc­ni­ca se­ja apli­ca­da nos Es­ta­dos Uni­dos, on­de 25 mi­lhões de pes­so­as so­frem des­se mal. No Bra­sil, cer­ca de 9% da po­pu­la­ção so­fre de di­a­be­tes. Na Ín­dia es­se por­cen­tu­al é qua­se o do­bro, nu­ma po­pu­la­ção que é seis ve­zes mai­or que a bra­si­lei­ra e com um ex­pres­si­vo con­tin­gen­te abai­xo da li­nha de po­bre­za.

“Por is­so sem­pre es­tão vin­do de­le­ga­ções de in­di­a­nos pa­ra apren­der es­sa téc­ni­ca co­nos­co. Em abril vi­rá mais uma de­le­ga­ção de in­di­a­nos”, in­for­ma Áu­reo. A téc­ni­ca ain­da é ex­pe­ri­men­tal, den­tro da clas­si­fi­ca­ção go­ver­na­men­tal bra­si­lei­ra de pro­ce­di­men­tos (téc­ni­cas acei­tas, não-acei­tas e ex­pe­ri­men­tais). Pa­ra com­pa­ra­ção, a ci­rur­gia de obe­si­da­de, re­a­li­za­da há 15 anos no Bra­sil, só foi ro­tu­la­da co­mo acei­ta no iní­cio de 2008, ou se­ja, até en­tão era ex­pe­ri­men­tal.

É im­por­tan­te ob­ser­var que a téc­ni­ca não tem a ver com obe­si­da­de, sen­do es­pe­cí­fi­ca pa­ra tra­ta­men­to de pa­ci­en­tes di­a­bé­ti­cos. A in­di­ca­ção é pa­ra pa­ci­en­tes com di­a­be­tes do ti­po 2, que com­pre­en­de 95% dos aco­me­ti­dos por es­sa do­en­ça. “O pro­ce­di­men­to tem am­plo al­can­ce, por­que se o in­di­ví­duo tem obe­si­da­de, es­sa obe­si­da­de se­rá cu­ra­da. Se ele tem pe­dra na ve­sí­cu­la, is­so se­rá cor­ri­gi­do, o mes­mo ocor­ren­do com hér­nia do es­tô­ma­go.

A obe­si­da­de é ape­nas par­te do pro­ble­ma”, afir­ma. Se­gun­do Áu­reo, o en­fo­que da ci­rur­gia não é ape­nas di­a­be­tes. “Quan­do se faz es­se pro­ce­di­men­to, 98% cu­ram do pro­ble­ma do co­les­te­rol; 95% dos pa­ci­en­tes cu­ram da hi­per­ten­são; 93% cu­ram do pro­ble­ma do tri­gli­cé­ri­des; e 90% re­ver­tem o pro­ble­ma re­nal. En­tão es­ta­mos tra­tan­do ou­tros pro­ble­mas de sa­ú­de vin­cu­la­dos ao di­a­be­tes, por­que nor­mal­men­te es­se in­di­ví­duo usa re­mé­dio pa­ra o co­les­te­rol, pa­ra os rins, pa­ra pres­são.” (Ce­zar San­tos).

Para saber como foi a minha cirurgia siga abaixo:
PARTE 1
http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/o-inicio-de-tudo.html


A Cirurgia do diabetes e da obesidade


Este post é uma sequência. Para se situar melhor vale a pena ler este antes:
PARTE 1 - http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/o-inicio-de-tudo.html

PARTE 2

PREPARAÇÃO

Acordamos cedo na terça feira. Eu tinha muito a fazer na empresa, mas optei por trabalhar em casa, grudada ao telefone e ao computador, pois lidar com diarréia forçada no escritório não seria tarefa fácil. Ligações constantes da Loise me ajudavam a monitorar horários, dieta e preparo intestinal. Imaginava ficar 15 dias sem trabalhar, assim dezenas de providências requeriam atenção e isso fez o dia passar rápido.

Véspera de cirurgia voluntária não é noite fácil. Dormi menos de quatro horas. Não tinha dúvidas, pois a decisão havia sido tomada de forma racional, pesando prós e contras. Sentia medo. A oração ajudou a acalmar meu espírito aos poucos.

A CIRURGIA

Acordei às quatro da manhã. Mais tranqüila fui fazer uma lista de objetos para tornar a estada no hospital menos dura. Na lista sob o titulo diversão tinha livros, ipod, Lap-top carregado com minhas séries favoritas e palavras cruzadas. Na lista dos primeiros socorros tinha protetor labial (para os três dias sem água), hipogloss (para lidar com os efeitos colaterais da diarréia) mascara para dormir (tenho dificuldade de dormir com claridade), um chinelinho e travesseiro.
Escolhi com calma a roupa para ir para o hospital, prometendo a mim mesma que em breve estaria de volta vestindo a mesma roupa.

A quarta feira começa com um ar úmido e abafado. Tanto eu quanto meu marido estávamos meio tensos e sem muito assunto no trajeto de 20 minutos.

Chegamos ao hospital às seis da manhã. Logo estávamos no quarto. Não havia terminado de colocar as roupas no pequeno armário e uma enfermeira entrou com a roupa do hospital e um comprimido.
- Um calmante, disse ela.

Minutos depois chegava um rapaz com a maca.
- Não posso ir andando - perguntei?
- Andando não, mas talvez de cadeira de rodas.
- Ótimo, respondi, melhor que a maca. Ele sai e volta com a maca.
- Tem que ser maca mesmo, pois a senhora já tomou o remédio.

Assim, tive que encarar a visão das lâmpadas passando uma a uma, que já havia assistido em outras cirurgias que fiz. No centro cirúrgico, reconheci a voz da Loise. Olhei de lado e vi duas moças vestidas com touca e máscara.

- Loise, é você?- Sim, sou eu. Tudo bem com a sra.?

A voz da Loise me trouxe profundo conforto. Nos últimos três dias, tínhamos conversado muito por telefone. Alta, elegante e bonita, Loise tinha sido muito solícita e gentil todo o tempo.

- Sim, estou bem. O Dr. Luiz já chegou?

Minha preocupação com a presença do Dr. Luiz era enorme, pois ele era o anestesista. Dadas as minhas condições o papel dele era fundamental, além do acompanhamento do cardiologista. Havia falado com ele por telefone na véspera.

- Ele já está no hospital respondeu Loise.
- Que bom! E Dr. Áureo?
- Ele chega daqui a pouco.

E esta é minha última lembrança. Não me lembro de injeção, de anestesia, de mudar da maca para a mesa de cirurgia, nada mais. O remédio simplesmente me apagou.

VOLTANDO DA ANESTESIA

A próxima nesga de consciência, já depois da cirurgia, foi de novo saber do anestesista.
- Dr. Luiz o senhor está aí?
- Sim estou aqui.
- Correu tudo bem?
- Foi perfeito.
- Que bom.

A voz calma dele me tranqüilizou. Adormeci novamente.

- Dr. Luiz, o senhor está aí?
- Sim estou aqui. Não se preocupe que vou ficar com você por um bom tempo ainda.

Soube depois que ele ficou no centro cirúrgico por duas horas, acompanhando a volta da anestesia e que, nesse intervalo, eu acordava e perguntava por ele várias vezes. Não conheço o seu rosto. Mas agradeço profundamente a forma humana como ele me respondia todas as vezes. No meu subconsciente estava gravado que, em função dos problemas cardíacos que eu poderia enfrentar, a volta da anestesia era uma fase crítica.

A cirurgia foi longa, perto de quatro horas, mais duas horas de monitoramento da volta da anestesia. Meu marido e minha irmã aguardavam notícias, e ao término da cirurgia, Dr. Áureo saiu do centro cirúrgico e disse a eles que tudo havia sido perfeito e que o sangramento tinha sido mínimo - o que, em procedimentos por laparoscopia, é um dos fatores de sucesso. Entregou algumas fotos da cirurgia. Avesso a sangue, Beto ficou chocado com as primeiras imagens e entregou as fotos para minha irmã Mariza que também aguardava no hospital.

- Ela já está saindo - perguntou Mariza.
- Ela deve ficar ainda por duas horas no centro cirúrgico para acompanhamento
- Mas porque tanto tempo, perguntou preocupada.
- É procedimento padrão. Logo ela estará no quarto - respondeu Dr. Áureo.

A palavra quarto acalmou meu marido. Se fosse UTI seria outra estória.

Uma e meia da tarde estava no quarto, num estado de semi-consciência e não me recordo de muita coisa mais desse dia. Algumas sensações, alguns sons, a luta para conseguir urinar sem sair da cama, mesmo com a forte pressão da bexiga. Não me lembro de dor, de sede. Só muito sono...

PRIMEIRO DIA

Na quinta-feira, acordo às cinco da manhã. Meu marido dormia ainda no sofá de visitas. Eu estava contente com meu estado geral. Meio sonolenta, mas me sentindo bem. Nada de dor. Nenhuma sonda, nenhum dreno. Um grande inimigo para os próximos dois dias era a sede. Verifiquei que a quantidade de saliva era adequada, ou seja, não sentiria a boca seca. O protetor labial foi a chave para manter os lábios umedecidos também.

Podia tomar banho e escovar os dentes, o que era excelente notícia. Mas recebi todos os alertas da Loise de que também seria um desafio, pois, em hipótese nenhuma, podia engolir água, sob pena de sérias conseqüências. Garanti a ela que eu não o faria.

Com a ajuda de uma cadeira, pude tomar um banho gostoso, ajudada pela enfermeira. A água morna, o cheiro familiar do xampu e do sabonete líquido me trouxeram segurança, restaurando uma espécie de sentido de normalidade.
Pude vestir minha própria roupa, pentear o cabelo e me perfumar como em qualquer dia normal.

Fui informada de que deveria andar um pouco pelo hospital, para evitar a formação de gases. Adorei a idéia. Meu soro estava preso ao pescoço, assim, eu tinha muita liberdade com as mãos. Arrastando o tripé de soro, fiz uma volta contando os pisos para calcular a distância do corredor do hospital. Totalizava 150 metros, ida-e-volta. Fiz duas voltas que me trouxeram novo ânimo. Em casa, costumo andar entre 4 e 6 km, diariamente, e adoro a sensação de bem estar que a caminhada traz.

Voltei ao quarto mais animada. Não quis ir para a cama. Preferi uma poltrona, usando a escadinha com travesseiro, como apoio para os pés.

Avessa a injeções e agulhas, tive que tirar sangue para um exame de laboratório. Também tinha pela frente um eletrocardiograma e um raio X, além de exercícios três vezes de manhã, três durante a tarde com o Respiron, um aparelhinho para melhorar a capacidade pulmonar.

A sede não me causou sofrimento. O corpo estava hidratado pelo soro, eu tinha saliva suficiente e quando me lembrava da água passava o protetor labial. Mariza e minha mãe vieram para que o Beto pudesse ir em casa tomar um banho e um café.

Não conseguia concentrar a atenção em nada, assim não pude ler nem escrever, muito menos jogar ou ver “Brothers and Sisters” no lap-top. Ainda estava muito solonenta em função dos remédios para dor. Os rins estavam funcionando bem.

A visita do Dr. Áureo foi rápida. Reforçou que a cirurgia tinha sido ótima e disse que havia se enganado redondamente comigo, pois havia comentado com Dr. Vicente que eu daria trabalho pois levava jeito de ser “barraqueira” (ele usou exatamente esse adjetivo).

- Barraqueira, Eu? Sou um poço de racionalidade!
- É, mas no consultório foi essa a impressão que tive.

Lembrei-me do dia em que forcei a barra para obter mais informações. Pode ter sido naquele momento, pois me lembro de ser bem firme para tentar obter um diálogo com ele.

- Que bom que o Sr. se enganou.
- Que bom que você está se recuperando tão bem.

Com o dia dividido em diversas pequenas metas, até que o tempo passou rápido. No inicio da tarde, fortes náuseas me deixaram combalida. A Siloene me ajudou nos tenebrosos minutos que durou a crise, enquanto a medicação não fazia efeito. Alegre e falante, Siló tentava me manter calma, em meio às inúteis tentativas de vomitar e um mal-estar medonho. Com o efeito do remédio, tudo voltou ao normal.

As enfermeiras da equipe do Dr. Áureo que conheci foram a Loise, a Siloene e a Madalena. Elas se diferenciavam completamente das demais enfermeiras do hospital. Uma mistura de atenção, compromisso, carinho e competência se somam e fazem toda a diferença.

Elas não ficavam o dia todo, em geral vinham no início da manhã e no final da tarde e faziam uma supervisão geral e orientação do pessoal do hospital. E sempre ficavam um pouco no quarto para saber como iam as coisas e para dar orientações.

Ás dez horas a ultima troca de soro da noite. O novo frasco deveria durar até de manhã. Umas gotinhas sob a língua com remédio para dormir ajudaram a noite a passar rápido.

SEGUNDO DIA

Acordo às cinco da manhã da sexta feira. Estado geral excelente. Acordei bem disposta, sem dor, sem sede e sem a zonzeira do dia anterior.
Era muito cedo para me movimentar e acender a luz, assim fui para a poltrona com o laptop e fiquei jogando cartas até as seis da manhã, quando a primeira enfermeira chegou ao quarto.

Fiz a caminhada pelo corredor do hospital. A esta altura fazia quatro voltas no corredor totalizando 600 metros, quatro vezes por dia. Total 2,4 km. Nada mal.

Às oito horas, chega a Madalena para me ajudar no banho. Não precisa, disse a ela. Creio que consigo tomar banho sem a cadeira, sozinha. Ela concordou, mas insistiu em esfregar minhas costas. Sua atitude comigo nesta meia hora demonstraram o que é uma pessoa que realmente ama sua profissão. Tenho natureza muito independente e prefiro resolver as coisas por mim mesma. Mas a verdade é que eu estava num momento especial, fragilizada - física e emocionalmente. Não esquecerei o carinho desprendido que recebi dela naquela manhã.

Depois do banho mais uma caminhada pelo hospital e a próxima sessão de tortura: retirar sangue para exame e tomar duas injeções que não podiam ser injetadas junto com o soro, como ocorria com a maior parte dos medicamentos. Não tive mais vômito. Mais tarde chegaram Mariza e mamãe, para que o Beto pudesse ir em casa.

Na visita do Dr. Áureo veio também o Dr. César que havia sido assistente na cirurgia. Muito gentil e atencioso.

O dia passou relativamente sem percalços, dividido entre as caminhadas, o respiron e o lap-top. O ipod tocava músicas familiares, apoiado numa pequenina caixinha de som, meu marido lia, às vezes conversávamos ou eu tirava pequenas sonecas...

A esta altura, eu já havia começado a fazer algumas anotações à mão para redigir esses posts.

TERCEIRO DIA

Era sábado. A grande novidade do dia era a liberação para tomar líquidos. Mesmo acordando ás cinco da manhã teria que aguardar a vinda do Dr. Vicente. Soube na véspera que Dr. Áureo tinha viajado e não viria ao hospital no final de semana.

Quando ele chegou (a espera demorou um século) soube que poderia beber água, chá e sucos em doses de 50 ml a cada meia hora. Um grande avanço! Nem esperei o fim da frase para me servir de água. Daí a pouco, chegou uma garrafa com água quente, adoçante, chás de hortelã, camomila e erva doce. Veio também uma jarra de suco de pêra. Um verdadeiro banquete para mim. Tanto a garrafa térmica quanto a jarra eram novas e estavam grafadas com “Somente para pacientes do Dr. Áureo”

Aquela altura, eu já havia aprendido que o nome do dr. Áureo era uma espécie de senha que facilitava tudo. Tudo era mais rápido e melhor se você precedesse a frase por “sou paciente do Dr. Áureo”. Não sei que tipo de acordo ele tem com o Hospital de Especialidades de Goiânia. Já na internação, o pessoal havia dito que os pacientes dele só são internados na 5ª unidade que lida com transplante de medula e, portanto, tem a melhor assepsia e os apartamentos mais confortáveis e novos.

O dia foi proveitoso. Pude escrever muito e ver vários capítulos de “Brothers & Sisters” no laptop. Eu havia optado por não divulgar a cirurgia a não ser para pouquíssimas pessoas. Havia pedido ao pessoal do trabalho para não me visitar no hospital. Assim, até aqui apenas minha mãe, minha irmã, os sócios Diorgil e Carlos e nossos compadres Sena e Lueli haviam me visitado no hospital. Foi uma ótima decisão, pois tudo ficou bem calmo e pude seguir bem a rotina hospitalar.

QUARTO DIA

Um bonito domingo de sol, dia 15 de março 2009, anunciava que o dia da alta seria de calor. Passava pouco das seis horas, quando fui para minha caminhada no hospital. Tentei saber a que horas poderia ir embora. Ansiosa para voltar para casa, não gostei nada da resposta: só depois do almoço.

Quando a Loise chegou, eu já estava pronta e de banho tomado. Perto das dez horas, Dr. Vicente chega para me passar os documentos e instruções para os próximos dias. Eu ainda tinha que tomar dois soros de hidratação rápida, uma hora e meia cada frasco. A próxima importante data era dia 30 de março, dali a quinze dias.

Até lá eu deveria, todos os dias: 1 - Continuar usando o Respiron 2 - Usar a meia elástica de dia e de noite 3 - Medir a pressão 4 - Fazer as caminhadas 5 - Tomar injeção anticoagulante 6 - Controlar e anotar a diurese (se inferior a 1,5 L teria que voltar para uma hidratação rápida).

Na terça feira, teria que fazer revisão na Clínica. Tudo isso veio em um documento impresso que incluía doze números de celulares da equipe para qualquer eventualidade. Daí a pouco, chegou a nutricionista, Dra. Mylena, com outra apostila.

Em poucas palavras, no domingo e na segunda-feira, a dieta era a seguinte: eu continuaria com os líquidos só que agora usando 100 ml a cada meia hora. Eram permitidos chá de camomila, hortelã, erva doce e suco de maçã, pêra, pêssego, melão e carambola. Também poderia água de côco (limite de 300ml dia) e leite de soja light.

Como ainda tinha que esperar o soro de hidratação rápida descer todo, solicitei a meu marido que saísse para fazer as compras necessárias. Terminado o soro tive que esperar uma eternidade para a retirada do cateter do pescoço. A sorte é que não doeu nada. Também já recebi a injeção de anticoagulante do dia. À uma e meia da tarde, saímos do hospital para uma tarde de domingo quente e ensolarada, cheia de ruídos e de cores.

Eu estava muito feliz. Ia voltar para a casa.

Continua na PARTE 3 - http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/volta-para-casa.html

Cirurgia do diabetes e da obesidade - O início de tudo

PARTE 1

COMO ASSIM?

Em 2008, num dia normal de trabalho, recebemos na empresa a visita de um amigo paulista que estava na cidade para uma ultima checagem pré-cirurgia. Perguntei, curiosa: por que em Goiânia? Marcos respondeu que a cirurgia seria em São Paulo, “mas o médico é goiano e a Clínica fica aqui”.

- Médico de quê? Diabetes e obesidade, respondeu.
E continuou: você mora na cidade do cara e não conhece? Ele é famoso mundialmente, talvez nossa chance do Brasil ganhar um Nobel de Medicina, não sabia? Não, não sabia. Como é o nome dele? Áureo Ludovico de Paula. Ele criou a técnica da cirurgia que cura diabetes e obesidade... Desde 2003, faz essas cirurgias e já fez mais de 600. Vou fazer a minha dia 3 de setembro.

Mordi a isca. Em casa, à noite fui pesquisar o nome do médico. Seu sobrenome é tradicional em nossa região. Em Goiás, os Ludovico são muito conhecidos na medicina, há gerações.

O Google me devolveu 3562 entradas... escolhi a primeira. Transposição de Íleo, cura do diabetes e da obesidade, freio neuro endócrino.

Muito interessante a leitura...

Nos meus 56 anos, portadora de chagas assintomática, hipoglicêmica e com peso elevado tinha tudo para achar o assunto interessantíssimo. Mas graças a Deus não sou diabética, então a pesquisa ficou por ali mesmo e enterrei o assunto.

Em novembro meu amigo Marcos volta a Goiânia para uma revisão da cirurgia e veio nos visitar novamente. Encontro uma pessoa irreconhecível, dez anos a menos, mais magro e muito bem disposto. Que diferença!

E ele me disse: o que você está esperando? Tem gente que vem do exterior para cá, você mora aqui. Marca a consulta!

INDEFINIÇÃO

Comentei com meu marido o assunto e ele me incentivou a ir em frente.

No mesmo dia agendei a consulta. Consegui horário na mesma semana. A clínica elegante ocupa um andar inteiro de um moderno prédio em Goiânia. A quantidade de revistas na sala confortável anunciou o que aconteceria: duas horas de espera...

Numa sala muito bem decorada, sou recebida por um jovem cheio de energia nos seus 47 anos. Bem apessoado, seguro de si e bastante assertivo, Dr. Áureo Ludovico fez as perguntas de praxe e depois começamos a conversar. Afirmou que eu estava no momento certo para fazer a cirurgia, que minha vida poderia melhorar radicalmente e que em meses eu poderia pensar em jogar tênis.

Mas como será, o que é essa cirurgia, e as conseqüências? Ele foi direto e curto:
- Nenhuma resposta pode ser dada sem os exames pois são muitas as possibilidades.
- Mas, Dr. Áureo, pelo menos me fale sobre a mais provável, repliquei ansiosa.
- Não posso. Faz primeiro os seus exames.
E imprimiu páginas e páginas contendo pedidos de pelo menos 40 exames. E não consegui arrancar nem uma palavra mais dele.

Saí desanimada e perdida.

Em casa, horas de pesquisa na Internet. Achei o blog com a estória de uma moça diabética, operada pelo Dr. Áureo, que se mostrava muitíssimo feliz com os resultados e sua nova vida.

Ninguém com caso parecido com o meu. Mas também nenhum paciente falando mal. Alguns médicos, citando o trabalho com um certo tom de incredulidade, explicavam que ainda não há tempo e evidências suficientes para se afirmar nada sobre os benefícios ou efeitos nefastos da cirurgia. Alguns médicos diziam que faziam a mesma cirurgia também.

Bem, pensei, vou fazer os exames pois de qualquer forma seria bom um check-up geral e o seguro saúde cobre esse custo. Nada tenho a perder.

Na fase de exames, a rotina de laboratórios, agulhas, ressonâncias, esperas e dietas malucas arrefeceu minha vontade. Tenho afinidade zero com a área da saúde e sua rotina meio deprimente. Tenho formação técnica e sempre gostei do mundo exato. E pra mim, muito pouco é exato nessa área...

Nem terminei a fase dos exames cardíacos, por sinal os mais importantes para quem tem Chagas e pretende se submeter a uma cirurgia. Mas a ansiedade por obter mais informações do próprio Dr. Áureo estava me roendo por dentro. Fui à clinica novamente com os exames que tinha para tentar obter alguns elementos a mais de decisão.

Na consulta com Dr. Áureo, descobri que estava com um problema no estômago que requeria medicação. Ganhei uma bronca por não ter concluído os exames.

Bem, pensei, vamos então aproveitar a consulta para falarmos um pouco mais da cirurgia.

Não posso te falar nada agora, respondeu o Dr. Áureo.
Há 9 possibilidades de ajudá-la e só podemos definir isso sabendo exatamente como está seu organismo. É por isso que acontecem todos esses problemas que estão na mídia sobre cirurgia de estômago. Não temos como falar disso agora. Termine todos os exames e volte aqui.

Tinha uma viagem para passar o Natal com nossa filha nos Estados Unidos e não queria adicionar nenhum problema a mais aos que já tinha, entre eles a construção de nossa nova casa e o final de ano na empresa com muito a fazer. Arquivei o assunto novamente e me dediquei ao meu dia-a-dia.

De férias, tive muito tempo para pensar. As situações muito definitivas, sem volta, não são as minhas preferidas.

De volta ao Brasil, em janeiro, iniciei a medicação com fortes antibióticos. Continuei com os exames restantes e fui para minha terceira consulta.

Com os resultados de todos os 40 exames em mãos, a vontade já combalida e com poucas informações para tomar uma decisão tão importante, cheguei ao consultório. Mais duas horas de espera. Finalmente sou recebida. Após olhar os relatórios, Dr. Áureo me fez mais algumas perguntas e me entregou mais pedidos de exame!!!

Ah não!!! Posso fazer estes exames sim, mas agora vamos falar sobre as hipóteses.
- Não posso, respondeu. Ainda não está claro para mim como vamos te ajudar.

Imaginando que a recusa dele em conversar tinha como causa a quantidade de pessoas aguardando na sala de espera e a hora tardia, optei por ser firme e incisiva também.

- Ok, Dr. Áureo, supondo que esteja tudo certo com os novos exames, vamos analisar a melhor solução indicada até aqui.

Um pouco irritado com minha insistência, mas percebendo minha ansiedade, Dr. Áureo abriu a brecha: o que você quer é uma data? - Sim, quero uma data. Peça para a Ana Paula agendar então. E, enquanto isso, você faz mais estes exames.

Ótimo. Mas preciso de informações também. Eu estou perdida. Quanto tempo dura a cirurgia? Quais os riscos? O que tenho a perder e a ganhar? Há prejuízos futuros? A técnica foi mesmo criada pelo senhor? Já tem número suficiente de pacientes para uma análise mais abalizada dos efeitos colaterais? E se eu tiver um problema amanhã que requeira um tratamento conflitante com a cirurgia efetuada?

E aí, fui conseguindo resposta a cada uma das minhas perguntas, todas baseadas na hipótese dos novos exames estarem em ordem.

Dr. Áureo falou mais sobre como a cirurgia funciona, o que é freio neuro endócrino, o porquê da transposição de íleo, porque a redução é de apenas 25% do estômago – ao contrário da cirurgia tradicional que retira 70% do volume original -, como passa a ser o comportamento em relação à comida e quais os possíveis riscos para uma pessoa na minha condição.

Era uma segunda feira. As respostas tiraram meus receiros e, na saída do consultório, agendei o retorno com os exames, com a recomendação de vir acompanhada de meu marido para uma conversa final sobre o procedimento. Cirurgia agendada para a próxima quarta, dali a onze dias. Se tivesse algum problema nos exames, cancelaria.

No trabalho perguntei a minha amiga Christiane, que havia feito a cirurgia tradicional de redução de estômago, se ela havia se arrependido em algum momento ou se faria de novo levando em conta os prós e contras. Ela foi categórica:

- Tive só um momento de arrependimento, uma semana após a cirurgia, já em casa, estava na fase da dieta líquida, senti o cheiro de bife acebolado e quase chorei de pensar no que havia feito. Foi a única vez. Eu faria de novo se preciso.

A resposta me animou mais.

A DECISÃO

Em casa, fui processar toda a conversa com Dr. Áureo. Com a data marcada tudo mudava de perspectiva. Saímos da arena das hipóteses e tudo ficava meio definitivo, sem volta.

Passei a noite em claro pensando. Toda escolha tem perdas e ganhos.

Um balanço rápido do meu estado atual mostra que na coluna de perdas eu tenho o excesso de peso, auto estima em baixa, a velha doença de Chagas, a hipoglicemia, e agora umas novidades não muito simpáticas: coágulo na artéria do intestino, gordura no fígado, formando uma bolinha de 1 cm; e outras coisas menores. Então, era por isso que cada exame requeria novo exame e assim por diante...
Na coluna de ganhos: continuar o ritmo de vida que tenho hoje.

E na hipótese de fazer a cirurgia?
Muitas perdas: risco da anestesia agravado pela doença de Chagas, risco de trombose no pós operatório, risco de infecção hospitalar e os custos envolvidos pois o processo é caro,. Superados todos os riscos ainda teria pela frente pelo menos três meses de fortes restrições e o resto da vida comendo pouco e devagar.

E muitos ganhos também. Se tudo der certo ocorrerá uma acentuada perda de peso, não porque o estômago vai ficar pequeno como nas cirurgias comuns de estômago, mas porque a química do corpo vai mudar e fazer com que eu fique saciada com menos quantidade. Emagrecendo vai embora a gordura do fígado, diminui o risco cardíaco, o colesterol e ainda resolve a hipoglicemia.


Mas posso obter todos esses ganhos com dieta? Posso. Mas essa é uma arena na qual luto desde a adolescência e conheço bem. Depois da menopausa as barreiras triplicaram. Também soube que a partir dos 60 anos o metabolismo vai piorar. Mesmo com minha rotina firme de exercícios não consigo sucesso na luta contra o excesso de peso.

E nessa etapa da minha vida, 56 anos, gostaria de me sentir mais saudável, mais disposta, além de recuperar um pouco da ilusão que foi sendo soterrada sob os 35 kilos adicionais que fui acumulando ao longo da vida. Aos 20 anos, pesava 50 kilos. Aumentei um kilo por ano, consistentemente, descontadas as idas e vindas. Aos 56 anos, estou girando em torno do horripilante peso que chegou a ultrapassar os 93 kilos.


Na verdade, cada estréia de uma nova dezena na escala me leva a tomar atitude e reduzir o peso, mas, rapidamente, estou de volta aquele patamar e inicio o caminho rumo à próxima dezena. Nessa rota, foram tipos diferentes de médicos, nutricionista, terapias, spas, dietas, e por aí vai a lista conhecida de quem tem excesso de peso.

Multiplica, divide, soma et voilá: a cirurgia é de longe a melhor opção.

De manhã, a decisão estava tomada. Então, tratava-se de encarar o que vinha pela frente. Fui bem cedo para o aeroporto, pois precisava ir a São Paulo a trabalho.

Ainda em São Paulo, recebi o e-mail da Geovana com os custos da cirurgia. Na verdade eu já tinha noção do valor pois tinha localizado no finalzinho de um post na Internet os custos detalhados. Se conseguisse apoio do plano de saúde seria ótimo pois 65% do custo total era hospital e materiais.

De volta a Goiânia, na quinta a noite, ainda tinha que fazer os exames restantes. Na segunda, a consulta de confirmação da cirurgia; na terça, o preparo, quarta: cirurgia...

Tudo muito rápido e alucinante...
O resultado dos exames deu o sinal verde.

Sexta feira, a ligação da Louise com instruções sobre o pré-preparo da cirurgia que começaria na manhã do outro dia.

Na segunda feira, meu sócio Diorgil me ligou de Brasilia e perguntou se eu estava animada para a cirurgia. Animadíssima, respondi. Animado estou eu, disse ele. Estou aqui com nosso amigo Marco e ele está irreconhecível. Um menino! Rejuvesceu, perdeu 28 kg e está muito bem.

Conversei alguns minutos com o Marco e ele só me encorajou. E acrescentou: - foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado.

À noite, meu marido e eu fomos ao consultório. Havia um documento a assinar, cheio de ameaças sobre os riscos. Conversamos com Dr. Áureo, ele mostrou em alguns slides como funcionaria a cirurgia e depois falou dos riscos um a um.

A conversa só reforçou a decisão. Convencido de que seria uma boa opção, meu marido me apoiou completamente. Assinamos os papéis.

Saímos da clínica meio aturdidos com o que vinha pela frente... Falamos sobre assuntos rotineiros. Liguei para nossas filhas avisando da cirurgia e garantindo que seria uma cirurgia simples, similar á uma de apêndice que fizera antes. Elas não moram em Goiânia e ficariam preocupadas à toa, assim, minimizei o problema.

Em casa, antes de dormir, meu marido me disse com voz tranqüila: vai dar tudo certo!

Continua na PARTE 2 => http://cirurgia2.blogspot.com/2009/03/cirurgia.html